sábado, 21 de abril de 2012

(Re)lembranças




Pois é meu jovem (des)governante! “Como é diferente o amor em Portugal”. Como é HOJE diferente o amor em Portugal.
Nós, os velhos, que fomos a geração que empurrou este país do burro para o automóvel; 
que passou da construção de carroças para a Autoeuropa;
que trabalhou e lutou para que os seus filhos fosse, se quisessem, doutores (embora alguns apenas o tenham sido aos 37 anos e com o favor de amigos);
que lutou numa guerra que não era sua e de onde regressou com maleitas várias, físicas ou psicológicas,
Que criou um Serviço Nacional de Saúde;
Que conseguiu escola gratuita para os filhos dos mais pobres;
Que passou do pé descalço para o fabrico de sapatos para todos;
Que reduziu a mortalidade infantil para números que são hoje imbatíveis na Europa e no mundo;
Que passou das calças com fundilhos para a roupa digna de gente;
Que passou de bandos de miúdos com fome para famílias nutridas;
Que fazendo contas na ardósia criou a riqueza que te permite ter computador, Ipad, Ipod, PSP, 2 ou 3 telemóveis, tablets e afins;
Que impôs alguma dignidade no mundo do trabalho passando da jorna para o contrato colectivo;
Que passou do dia laboral de sol a sol para as 8 horas;
Que passou do “povo que lavas no rio” para a utilização e construção massiva de electrodomésticos;
Que com os seus descontos para a segurança social te garantiu abono de família, assistência médica e descontos nos transportes enquanto estudante (e como foi longo esse caminho)
 Dizia que nós, os velhos, somos agora um estorvo.
As magras reformas, para as quais depositamos mensalmente a nossa contribuição fazendo de ti fiel depositário, são vistas como privilégios a que, duvidosamente, teremos direito;
O direito á saúde, que já nos falta, é apontado como o causador da falência do sistema. Mas não as parcerias ruinosas dos teus amigos que insistes em manter;
As retenções na fonte sobre as nossas pensões acabam de aumentar mais uns pontos percentuais. Como estão longe os tempos em que afirmavas que “os portugueses não aguantam mais aumentos de impostos”;
Pensões das quais nos espoliaste dois meses e meio dizendo que seria por dois anos” e de forma ABSOLUTAMENTE EXCEPCIONAL” mas que já, com despudor, passaste para quatro. Como vão longe os tempos em chamavas mentiroso ao teu antecessor quando ele afirmava que nos tirarias os subsídios.
As comparticipações na ajuda medicamentosa encolhem assustadoramente deixando alguns de nós à beira da cova ou à beira do dilema: Compro os medicamentos ou o pão?
Enfim, somos, cada vez mais, um empecilho.
Como estou triste por ter lutado por gente como tu.
É, para ti, uma calamidade que a esperança de vida tenha aumentado. Que bom seria se continuássemos a morrer aos 50.
Que bom seria, para os portugueses, se alguns políticos nunca tivessem nascido.