domingo, 20 de maio de 2012

O "Coiso"


O "Coiso"



É sem sombra de espanto que somos novamente confrontados com mais uma pérola do ministro Álvaro "Coiso". Depois dos pastéis de nata, da "desconcertação" social, da incapacidade para aplicar os Fundos Estruturais ( só 50% foram aplicados restando 22 mil milhões de euros por aplicar e em risco de serem perdidos) vem agora "o coiso" do desemprego. Ainda há poucos dias um membro do governo referia que o desemprego lhe tirava o sono. Bom sempre ouvi dizer que o coiso tira a sono a muita gente! Porém, neste caso, o "coiso" tira o sono a mais de 15% da população portuguesa, isto é, mais de um milhão de pessoas, 35% das quais jovens cujas potencialidades estão a ser desbaratadas. E o ministro "Coiso" sem soluções, sem ideias e sem iniciativa para resolver o problema. E o caricato de tudo isto é que depois vem o primeiro ministro "Coisinho" falar de iniciativa e empreendedorismo. Talvez fosse bom o senhor primeiro ministro tomar a iniciativa de tornar empreendedor o seu ministro "Coiso". Falar de empreendedorismo quando dezenas de empresas fecham diariamente, quando os bancos recusam crédito até a empresas já fixadas no mercado e com carteiras de clientes mais ou menos estáveis, quando qualquer disputa judicial entre empresas demora pelo menos 10 anos a ser resolvida, quando os pagamentos às empresas são feitos tarde e a más horas, sendo nisto o estado o maior especialista, é no mínimo, chamar parvos aos portugueses. Quem tiver iniciativa e vontade de criar uma empresa o melhor é passar a fronteira para o outro lado e escolher qualquer país menos este. E se dúvidas houvesse quanto a isto aí estão as nossas empresas do Psi20 a provar que tenho razão. Muito se falou do Pingo Doce ter mudado a sede para a Holanda mas mal se falou das outras dezanove que já lá estavam entre elas o próprio banco do estado. Se somarmos a isto a corrupção, a promiscuidade entre os grandes grupos e membros dos sucessivos governos, o compadrio entre as famílias tradicionalmente detentoras das fortunas em Portugal e esses governos então é que nem pensar colocar aqui um euro de investimento. É deitar dinheiro à rua porque qualquer pequeno investidor será rapidamente engolido por grupos como a Jerónimo Martins e outros. Basta pensar nas pequenas mercearias de bairro, nos pequenos restaurantes ou nas pequenas oficinas que fecham diariamente para ver qual o destino que está reservado ao pequeno investidor. Os tempos de crise são bons para os grandes grupos mas péssimos para as pequenas empresas.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

A chuva caía.

A chuva caía.

Depois de um dia razoavelmente quente passado em Peniche, regresso a Sintra e tudo muda.
 Ao final da tarde chegou a chuva. Persistente, abundante, enternecedora. E isso fez-me lembrar um extraordinário poema de Augusto Gil. Ele aqui fica!

A frouxa luz da tarde esmorecia.
Era de ardósia e oiro todo o poente.


A chuva caía,
Monotonamente...


O crepúsculo entrou; encheu a sala...
Ao fundo, as altas chamas do fogão
Vibravam numa palpitante escala,
Numa ansiosa e trémula ascensão
De tons de coralina e tons de opala.


Falamos sobre o amor em frases vagas,
Sem alusão directa ao nosso amor,
Como quem quer poupar a duas chagas,
tocando nelas, uma inútil dor...


Tomei-te as frias mãos por uns instantes.
Cingi-te, leve, ao coração, depois.
Mas como nós estávamos distantes!
Havia o infinito entre nós dois!


Tornara-se o silencio mais silente,
E o que o nosso falar não exprimia
Era o próprio silencio inconfidente
Que no-lo segredava e repetia
Monotonamente...


Monotonamente,
a chuva caía...


Trouxeram luz. Cavou-se mais então,
Entre o teu ser e o meu, a solidão...


Tanta e tão grande foi, que parecera
Que todo o escuro que no sala houvera
Se condensara num serrado véu
E enrolando-se a nós, nos envolveu


Num grande luto soluçado e fundo,
De encher mil vidas, comover o mundo...


Disse-te adeus. Beijei-te sorridente.
Adeus! disseste; e o teu dizer sorria.


Monotonamente,
A chuva caía...


Mas logo num acesso repentino,
Em nossos olhos irrompeu um pranto
Despedaçante, intérmino, assassino...


Pranto que, quando as fontes lacrimais
Se ficam secas de chorarem tanto,
É a alma que chora mais, e mais,


E mais, e ainda, e sempre, de tal sorte
Que fica a soluçar - até à morte..


O amor, fio de aranha quebradiço,
Um sopro o quebra e ninguém mais o reata.
Mas ai de nós! Rompeu-se, e nem por isso
A dor que ele nos deixa se desata...


Num abraço de corpos naufragados
Que nossos prantos num só pranto unia,
Quedámos sucumbidos e prostrados,
Até que já no céu luziu o dia


... Um dia pálido e deliquescente.


E a chuva caía,
Mais triste, mais fria,
Monotonamente...


Um pouco longo, talvez! Sem o rasgo de génio da Tabacaria do Fernando Pessoa, mas de qualquer modo um belo poema ao amor com a chuva como pano de fundo.

quinta-feira, 3 de maio de 2012



Cada vez entendo menos este nosso país! E a culpa é seguramente minha. Vem isto a propósito de uma discussão que ouvi entre supostos especialistas. O tema era educação e ensino mas como as conversas são como as cerejas, acabou resvalando para outras áreas.
Da parte do ensino, não percebi nada. Primeiro os interlocutores defenderam, com grandes argumentos, que era preciso combater o abandono escolar, motivar os jovens para a formação, tirá-los das ruas e dar-lhe incentivos na procura de uma actividade útil a si próprios e à sociedade. Gostei! Mas, para meu espanto, passado pouco tempo já ouvia coisas deste tipo: “ o mal é que hoje todos querem ser senhores doutores”, “já ninguém quer ser trolha ou carpinteiro” ou ainda “ a culpa é dos pais que metem estas coisas na cabeça das crianças”. Ninguém se lembrou de referir que a diferença entre o salário do senhor doutor e o do trolha é um abismo mais ou menos como a Fossa das Marianas. E nem vou falar da dignidade reconhecida a cada uma dessas profissões independentemente da qualidade profissional dos seus praticantes. Um mau doutor será sempre um Senhor doutor mas um bom trolha é apenas um trolha. Assim sendo porque diabo é que os pais não hão-de crer que os filhos sejam doutores? Qual é o pai que se preza que deseja para o filho um salário de 485 euros? Naturalmente que todos desejam que os seus filhos recebam como Catrogas independentemente de serem bons ou maus Catrogas.
Quanto à educação nem vale a pena falar. A falta dela é toda culpa dos jovens! Esses só dizem palavrões, não querem trabalhar, não respeitam os mais velhos, e deviam levar uns bons tabefes que para ver se aprendiam.
 E perante isto acho que está tudo dito. São dois velhos portugueses educados no Estado Novo. Não têm culpa desta visão desfocada e por isso apraz-me dizer: - E que tal discutir educação e ensino?